quinta-feira, 27 de março de 2008

A LINHA DE SANDY MÜLLER

Por Cláudio Munhoz

Num mundo globalizado, onde o conceito clássico de fronteira começa a perder o sentido, uma linha traçada no chão ou na alma não significa propriamente um ato de separação ou de exclusão. Ao contrário, indica uma corajosa tentativa de unir culturas e expandir a criação para além do senso comum.

Foi com esse espírito, de natureza universal, que a cantora e compositora ítalo-brasileira Sandy Müller Gasperoni desembarcou no Brasil há duas semanas para cumprir uma agenda de shows de lançamento do CD “Linha”, seu segundo trabalho fonográfico. Gravado no Rio de Janeiro, com produção de Marcelo Costa e a participação de vários nomes conceituados da música brasileira e italiana, “Linha” é um projeto idealizado por Sandy Müller e Claudio Pezzotta - parceiro e marido -, responsável pelos arranjos.

Filha de brasileiros, nascida e criada em Roma, Sandy Müller tem suas raízes existenciais e artísticas fincadas em seus dois solos pátrios, uma linha “traçada no chão, no chão / tracciata per terra” sobre a qual caminha, voa e navega, e revela ao mundo o talento e a candura de uma artista sensível e apaixonante.

Das 13 canções que integram o CD “Linha”, 12 são de autoria de Sandy e Cláudio Pezzotta, sendo que “Vorrei”, 12ª faixa do álbum, conta também com a assinatura de Massimiliano De Tomassi. Em “Linha”, Sandy Müller nos convida a uma agradável viagem pelo mundo do Pop (“Linha” / “Monitor” / “Bocca Di Vetro” / “Saudade” / “Estonteante” / “Vorrei” / “Filho”), do samba (“Samba Lento” / “Tamborim” / “Tais E Quais”) e da Bossa Nova (“Já Vi” / “Triste”), inspirada por arranjos bem elaborados, com pitadas suaves de Jazz, Funk e Soul, e letras que mesclam versos em italiano e português com a naturalidade de quem se alimenta da energia musical e poética de duas línguas irmãs. A surpresa, que soa como uma deliciosa homenagem, fica por conta de “La Novità”, versão assinada por Sandy e De Tomassi para a canção “A Novidade” (Herbert Vianna / João Barone / Bi Ribeiro / Gilberto Gil).

Com apresentações marcadas para o Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Florianópolis e Curitiba, a turnê de Sandy Müller tem tudo para conquistar o público brasileiro. No palco, acompanhada de Claudio Pezzotta ao violão, ela inclui no repertório canções de “Linha” e de seu trabalho anterior, ainda inédito no Brasil. Nessa versão acústica, adaptada para o formato Pocket Show por Pezzotta, Sandy exibe todo o seu talento de intérprete, conferindo a cada canção um toque especial de sensibilidade e leveza.

Quem acompanha a trajetória de Sandy Müller desde antes do lançamento de seu trabalho de estréia em terras italianas, tem uma percepção clara de que “Linha” representa muito mais do que um produto fonográfico de alta qualidade. “Linha” traduz a essência de uma artista que, através da música, reaviva n’alma o desejo imenso de viver, sonhar, compor e encantar-nos com a doçura irresistível de seu canto.

quinta-feira, 20 de março de 2008

ANDARILHO E POETA

Por Cláudio Munhoz

Todo andarilho é um solitário em fuga. E porque, em meio à multidão, caminha, observa e medita, tão imensa é a dor de não se sentir amado.

Todo poeta é um amante em delírio. E porque, na esteira de um desejo sublime, sonha, ama e revela-se, tão lancinante é a dor de sentir-se só.

Eis que sou andarilho e poeta, viajante de longas e extenuantes jornadas. Mas se, à beira do caminho, ao menos pudesse encontrar no fulgor de teus olhos a orientação das estrelas e no silêncio de tua intimidade um pouso seguro para o meu espírito, decerto não temeria os mistérios do amor, tampouco as intempéries da solidão.

quarta-feira, 5 de março de 2008

O SENTIDO DA EXISTÊNCIA

Por Cláudio Munhoz

O homem não precisa de asas para voar; para tanto, basta-lhe o pensamento. Todavia, adstrito às manifestações dos sentidos, ele, de um modo geral, ainda hesita em ir além daquilo que toma por realidade, embora a realidade seja algo em permanente processo de construção e expansão, à qual são incorporados a todo instante novos elementos, princípios, conceitos e valores. Para citar apenas um dos sentidos, muitos permanecem na acanhada idéia do “ver para crer”. Mas se a realidade está circunscrita ao que nos é perceptível, o que somos perante o Universo, em sua dimensão infinita?

Valendo-me do paladar como metáfora, lembro que há muitos séculos a Filosofia propôs um lauto banquete à degustação reflexiva. Se não, vejamos:

Quem somos?” - como o despertar da consciência, princípio da individualidade; “De onde viemos?” - como um processo de investigação da origem, conceito de pré-existência; “Para onde vamos?” - como projeção de um destino, sentido de continuidade e progressão.

Sendo cada um de nós uma individualidade, se temos uma origem e perseguimos um destino, proponho outra indagação: “O que estamos fazendo aqui?” - como forma de reconhecimento do espaço físico e adaptação e integração ao meio, perímetro da ação.

Diante dessas premissas, podemos inferir que o sentido da existência transcende o conceito de vida na esfera do plano da matéria, limitado à estreita faixa entre a concepção e a morte de um ser. E é nesse contexto mais amplo em que nos movimentamos incessantemente em busca de respostas a muitas indagações.

“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”, disse Jesus, propondo-nos um grande desafio. E por que não aceitá-lo? Mergulhados na intimidade de nossas almas, busquemos, pois, a verdade, não a verdade do mundo, que confunde e desvirtua o nosso entendimento, mas a verdade absoluta e imutável, que está em Deus, por ser esse o único caminho que nos conduzirá à libertação.